A pergunta correta é, até quando será mais importante parecer que ser? Eu gosto sempre de tentar pensar positivo e acredito que a onda de consumismo frenético na qual navegamos já há bastantes anos e que parece estar no seu pico, venha a esmorecer. Que o foco naquilo que é mesmo mais importante – as coisas simples da vida, os afectos, a realização pessoal – venham a ter mais preponderância que o acumular de coisas para mostrar que se tem. Pelo estatuto e a imagem que se instituiu associar-se a determinadas marcas, produtos ou estética.
Em dia de pós Vogue Fashion’s Night Out (VFNO) penso que é útil parar para pensar na vida frenética de consumo que temos. A cada ano, este evento que celebra a indústria da moda em várias grandes capitais pelo mundo inteiro, parece que tem mais e mais gente a aderir. Para quem já foi, assemelha-se muito à Lisboa dos Santos Populares, mas do Fashion. 🙂 Qual parece ser o grande apelativo que suscita tal ajuntamento de mulherio, principalmente? Os descontos das várias marcas aderentes, se bem que nem se consiga bem entrar nas lojas, as ofertas, as dinamizações, a possibilidade de ser fotografada e talvez de viver um momento de luxo citadino à Sexo e a Cidade. A oportunidade de aparecer no nosso melhor outfit numa gigantesca passadeira vermelha sob os holofotes de toda uma multidão. Reconheço que é uma boa iniciativa para as marcas chegarem a mais pessoas e aumentarem as suas vendas, e para mim é basicamente um parque de diversões. Este ano não fui mas das outras vezes gostei imenso de apenas observar a enorme diversidade de pessoas e situações – para quem adora só estar a ver passar pessoas, é como a kid in a candy store. 🙂
Mas esta loucura toda com o VFNO só traduz a loucura geral com a moda. As coleções são cada vez mais rápidas e efémeras. Os tempos de ver uma peça numa loja e ficar a namorá-la por meses até nos decidirmos ou apanharmos os saldos, já eram. Se não compramos logo a tal peça de que gostamos, arriscamo-nos a não haver mais na semana seguinte. Ou até poucos dias depois. Contudo, vão poder continuar a ver a vossa peça do coração em tudo quanto é sítio, vos garanto. A grande probabilidade é de ela ter esgotado porque toda a gente a comprou já que a blogger de sucesso X ou a celebridade Y foram fotogradas a usá-la, com mais ou menos finesse. E depois temos aquele fenómeno estranho feminino que é o de termos quase ataques cardíacos se vemos outra mulher com um vestido igual ao nosso numa festa, mas não nos importamos nada de andar com a mesma camisola com que meia Lisboa anda e com a qual nos cruzaremos umas quantas vezes durante o dia. Estranho, hein?
Lá porque se usa não quer dizer que se tem que usar. Mas o fenómeno das tendências, dos must-haves (será que devemos mesmo ter??), das peças it, transmitem um tal sentido de urgência e inevitabilidade que nos leva a pensar que seremos mais felizes se formos orgulhosas donas do artigo sensação do momento. A necessidade de corresponder a um determinado estatuto, ser admirada por aquilo que parecemos e até de ser alvo de inveja de outras pessoas que desejam o mesmo, mete-se muitas vezes no caminho do que é realmente importante. Porque se podemos manipular a imagem para parecermos quem gostaríamos de ser porque nos havemos de esforçar para sê-lo realmente?? Se podemos parecer importantes para os outros, tão facilmente, porquê ter o trabalho de fazer mesmo algo de importante que nos transfira essa importância? Porquê a canseira de olharmos para dentro a aprendermos a gostar de nós como somos e reconhecer, assim mesmo sem artifícios, o nosso valor?
Eu sou a favor da manipulação da imagem, reparem, mas aquela que nos permite alinhar a mensagem que passamos com o que somos verdadeiramente. Ou com o potencial que sabemos que temos. No fundo, é colocar uma embalagem bonita que honre um produto de alta qualidade ao contrário daquelas refeições congeladas cuja fotografia é altamente apetitosa mas que nada tem que ver com a lasanha manhosa e triste que lá vem dentro. A sensação de decepção é de partir o coração. E é o mesmo que nos acontece quando reparamos no vazio por detrás de algumas pessoas tão bonitas, vistosas, estilosas ou que parecem ter uma vida maravilhosa. Esperava-se mais algum conteúdo a acompanhar a festa exterior. Por isso mesmo, nunca julguem um livro pela capa, tanto um bestseller como a edição de fundo de prateleira. E preocupem-se tanto com o look do dia e a maquilhagem perfeita como com o embelezamento interior – sejam pessoas interessantes e interessadas, gentis, assertivas, confiantes, únicas. Desenvolvam o vosso estilo pessoal singular e surpreendam, sejam mais do que apenas parecem! 😉
Sigo o blogue há algum tempo, gosto das fotos-inspiração que publicas, gosto do que leio quando escreves sobre realização pessoal, perseguir os sonhos e sermos a melhor versão de nós mesmos, mas habitualmente não comento. Hoje tinha mesmo de comentar. Concordo a 100% contigo. Mais me entristece o facto de confundirem o gosto pela moda com o consumismo. Por mim falo, mas gostar de moda não quer dizer que tenha de comprar tudo o que me aparece à frente, tudo o que é moda. Gosto de moda, gosto de ver coisas bonitas, gosto da forma como as roupas me permitem dizer muito sobre mim. É de facto necessário repensar a forma como encaramos a vida e aquilo que possuimos – ou nos possui.
estenaoeumbloguedemoda.wordpress.com
Obrigada! 😀 Há tantas perspetivas a poder abordar-se sobre este assunto que seria impossível aqui mas tens razão, há que diferenciar o gosto por moda do consumismo. Moda é arte e comunicação e que nos deve servir da melhor maneira – à nossa maneira. Não é uma arma de arremesso do nosso lifestyle – real ou ambicionado! E é mesmo como dizes, há que avaliar a forma como levamos a vida para não sermos levada por ela, ou pelas coisas que acumulamos! 😉 Obrigada pelo comment! 😉 ***
Provavelmente é dos melhores posts que já li por aqui. Esta reflexão é muito importante e muito pertinente. Reparei por exemplo, que na VFNO parece haver uma "farda" que todas as jovens aspirantes a fashionistas usam. Este ano foi a famosa saia-calção da Zara, que já vi replicada em várias lojas e quase todo o mulherio usava. Enfim, nada contra, eu mesma namorei essa peça, mas acho que cada vez mais a moda tem sido encarada como algo colectivo em vez de pessoal. Como diz a estenaoeumbloguedemoda ali em cima, gostar de moda não tem de fazer de nós consumistas ou mais uma ovelha no rebanho.
Entretanto enquanto te lia estava a pensar naquele conceito do "fake it 'til you make it" e parece-me que se vive muito mais na parte do "fake it" sem ter um objectivo. Acaba por ser tudo uma grande ilusão, porque temos de facto uma cultura superficial a surgir em que apenas se tem de parecer mais ou menos na moda para que se sintam válidos(as) em algo. E isso nem entra no conceito de "gostar de moda". Sinto que há muita gente equivocada e sem objectivos. E isso faz-me alguma confusão.
Posts como este fazem-nos reflectir sobre estes assuntos e ajudam a perspectivar as coisas. Muito bom! 😉
Obrigda querida! 😀 E é como dizes, esta questão das peças must-have faz com que as raparigas pareçam que andam realmente de 'farda' e sendo então peças tão icónicas e diferentes, há pouco a fazer para dar a volta… mesmo quem gosta fica logo cansada da peça de a ver tão repetida em todo o lado.
É verdade, o fake 'till you make it pode ser muito válido para ultrapassar algumas limitações pessoais como falta de confiança, de assertividade… quando usada em prol de atingir certo estatuto ou reputação sem conteúdo, é apenas fake… A pressão para parecer de certa forma e ter certas coisas é mais que muita à nossa volta, mas eu também acredito que mais tarde ou mais cedo, quem 'goste de moda' dessa forma também se cansa e se esforça por olhar para dentro e construir o seu estilo único. Vamos ter fé! 🙂
Muito, muito obrigada pela tua participação! 😉 ***
Sempre gostei muito de moda (como já sabe) mas aquela ideia de parecer como toda a gente sempre me deu bastante urticária!!! O que realamente é importante é ,como referiu e muito acertadamente, saber tirar partido da roupa para ela conseguir valorizar o que somos e o que melhor há em nós. Quando vejo essencialmente miúdas a comprar freneticamente roupa para se parecerem com celebridades, sinto algum desapontamento por ver que demonstram uma grande falta de personalidade e também de alguns valores…
Nunca fui de seguir tendências à risca apesar de gostar de estar informada e actualizada e tento que isso não interfira nos meus estilos. Saber comprar roupa aprende-se e não cair no consumismo, só porque sim, também, com muito bom senso é claro!!!
Parabéns pelo post, porque faz (re)pensar sobre estes conceitos do fast fashion e de tudo que por detrás se associa.
Ana (Rosa Bailarina)
É mesmo um pouco triste mas acredito que na fase da adolescência seja mais fácil de ceder aos apelos todos – já fomos assim também muito provavelmente, mas também eram outros tempos – mas acredito que com a maturidade isso passe! 😉 Saber o que nos fica bem e aquilo de que gostamos mesmo é o essencial para fazer boas compras, sem excessos e gastos desnecessários. 😉 Obrigada Ana, espero que esteja tudo bem! 😉 ***
Um dos teus melhores posts, sem dúvida.
Parabéns, MESMO.
Há quem perceba realmente a essência da moda (como tu) e há quem ache que perceba. Há realmente uma grande diferença, aliás, um enorme fosso.
Beijo grande Anita 😉
Obrigada, querida, MESMO! 😀 Fico mesmo contente… beijinho grande! ***