Conheci a Sónia há relativamente pouco tempo, através da Catarina. E foi em conversa com a Sónia que me apercebi do fantástico processo de mudança de vida que ela fez. Pedi-lhe logo que me pusesse a história por escrito para vos contar aqui, porque é mesmo inspiradora. Como eu própria mudei de vida, sou muito sensível ao tema, mais ainda porque a maioria dos casos que trabalho em Coaching são de pessoas que chegam àquele ponto da vida em que já não se revêm no que fazem e querem, muitas vezes, mudar radicalmente de área e fazer o que realmente as deixa felizes. Mas esse processo não é, de todo, fácil. Eu tive a clarividência de o fazer cedo na vida – sem nada a perder nem grandes responsabilidades que me prendessem – mas sei que quem tem contas para pagar, filhos e até uma carreira já fulgurante apesar de vos custar horrores sair da cama de manhã, pode tornar todo o processo mais complicado de se fazer. Ou pelo menos, na nossa imaginação. Mas a Sónia prova que nada disso é impeditivo – é bem possível mudar o rumo aos 30 ou até mais tarde e com todo o tipo de responsabilidades. Não estou a dizer que é fácil. Estou a dizer que é possível. 🙂 Com um objetivo em mente, um plano, passos sustentados, muita paciência e vontade de ser feliz à mistura, a Sónia mostra-vos com o exemplo dela que é bem possível mudar de carreira e de vida. Leiam já de seguida:
feliz me obrigou a pensar na minha vida e em tudo o que fazia e era. Dei por
mim a enumerar tudo o que me fazia feliz e o que não fazia, sendo que o
trabalho e a profissão surgiu como um elemento de desagrado total… Eu nunca
tinha pensado nisto profundamente, vivia quase programada para o trabalho,
“tinha de ser” estás a ver? Acho que isto acontece com a maioria das pessoas,
trabalhamos para ter dinheiro, o que nos permite viver.
enviar CVs, ver como andava o mercado. É que, à primeira vista, nunca achamos
que o problema é nosso, ele está sempre nos outros… Até que comecei a ir a
entrevistas e percebi que era tudo igual e que não me ia fazer particularmente
feliz… ok, talvez no primeiro mês sim, mas depois ia passar. Foi aí que me
deparei com uma das maiores angústias: eu estava saturada do que fazia, ao
ponto de odiar aquilo e de fazer tudo de forma mecanizada… e isto é horrível,
porque não sabes fazer mais nada, não te vês a fazer mais nada.
anos… e mais ainda na fase seguinte em que te vês obrigada a pensar o que vais
fazer a partir daqui: aceitar e reclamar da vida? Ou sair da zona de conforto e
procurar a solução?
consigo aceitá-la, nem para outros quanto mais para mim. A vida é para sermos
felizes, sem angústias… então, comecei a pensar o que me podia trazer sucesso e
satisfação, num imenso vazio que durante meses não tinha qualquer resposta e
tinha todas, ao mesmo tempo.
amigas de sempre, que nos conhecem melhor que nós próprias – o diálogo
definitivo surgiu: “sabes o que eu acho que era a tua cara?” dizia-me ela, ao
que eu respondi: “sei lá… sabes no que eu até já pensei?” e de repente dizemos
as duas ao mesmo tempo: Maquilhagem!
e sempre maquilhei as minhas amigas, inclusivamente, enquanto consultora de
comunicação, eu trabalhava com marcas de beleza e cosmética… mas eu nunca achei
que ser maquilhadora fosse uma profissão à séria. Acho que pertencemos a uma
geração e meio em que a formatação é sempre a mesma: vais para a universidade,
tiras um curso superior, arranja um emprego, depois outro e fazes o maior
sucesso, ou não, mas ganhas dinheiro.
que são maquilhadoras e tirou-me no segundo qualquer assombração possível,
mostrando-me que era possível, muito possível.
aquilo. Isto aconteceu em Novembro, e em uma semana eu procurei cursos e
soluções. Falei com uma amiga que trabalhava num meio com contacto com muitos
maquilhadores, que acabou por me aconselhar sobre as melhores soluções e
percurso e deu-me o contacto daquele que foi, e será sempre, o meu Mestre Mor. Inscrevi-me no curso profissional de maquilhagem nessa mesma semana e
fiquei ansiosa que começasse, o que aconteceu logo a seguir, em Janeiro.
ia acontecer a algum momento, mas eu sabia que tinha que ir em frente. Em
nenhum momento tive dúvidas, mas a cada segundo questionei se ia mesmo
acontecer, se ia ser capaz.
novo mundo, mas também consciente de que começar do zero com mais de 30 anos e
contas para pagar, pode tornar as coisas pouco realizáveis… eu não lido bem com
a angústia e por isso decidi, por mim própria, levar um dia de cada vez, que a
solução havia de surgir a alguma altura. Eu só pedia a mim própria que nunca
deixasse passar o timing certo,
aquele momento em que é agora ou não é nunca mais…
maquilhadores, criei um blogue para mostrar trabalho e falar sobre maquilhagem…
na verdade, não parei mais e a minha agenda dividia-se entre o trabalho de
consultora na agência onde trabalhava durante a semana e a maquilhagem ao final
do dia e aos fins-de-semana. E frequentemente chegava a momentos de exaustão,
em que tinha febres inexplicáveis, que passavam com um dia a dormir.
dar mais para aguentar. Mesmo assim, ainda se passaram meses nisto, em que
andava num misto de tentar arranjar forma de me despedirem e a marcar
hipotéticas datas em que me ia despedir: quando regressar de férias, antes do
Natal, quando regressar da passagem de ano,… O dia decisivo foi quando me
passaram um trabalho que me deixou muito (ainda mais) infeliz, nesse dia
almocei com uma amiga e desatei a chorei. Ela viu-me tão angustiada que optou
pelo discurso que mais ninguém iria ter: “O que tu queres é irreal. Tu queres
que tomem a decisão por ti ou que consigas conciliar as duas profissões de uma forma
absurda… salta fora, não tens nada a perder! Eu pago-te a renda da casa
se precisares!”
ninguém, fechei-me em casa a ver séries e telenovelas e a chorar. Na segunda estava
como nova e a contar os dias para a “nova vida”.
pensar ou perceber. Envolveu momentos de muitas dúvidas, momentos em que me senti
perdida e angustiada, muito choro, muitos gritos e desabafos, muitas manhãs a
não querer levantar-me da cama, muitos dias a andar para o metro com a sensação
de ter uma corda no pescoço, muitas pessoas a desencorajar e a achar que estava
louca, mas felizmente outras tantas a apoiar.
possível, e dar tempo ao tempo, aproveitando cada brecha que ia surgindo. Houve
claro alturas em que achei que não ia conseguir, mas houve sempre alguma coisa
que, em determinado momento, me mostrava que estava no caminho certo.
Perseverança, acho que esta foi a minha maior arma.
da minha vida a fazer uma coisa que não me valeu de nada. Pelo contrário, é
este caminho que me dá as bases que preciso actualmente. Não sei até que ponto
é que, se voltasse atrás, há 10 ou 15 anos, não faria exactamente o mesmo
trajecto inclusivamente… Mas hoje sou muito mais feliz, realizada e de bem com
a vida.

Oh…. "caganda" história…mesmo, não estou a brincar. E depois de a ler – e de me rever em parte nela, porque ainda não tive coragem de dar o grande salto – chego à conclusão de que acho que nós afinal temos é medo das nossas reacções, medo do que não sabemos que vai acontecer, preocupamo-nos com o que ainda não chegou. Enfim…. Mais qualquer coisas para eu "remoer" durante as minhas férias.
Beijinhos!!
É mesmo uma 'ganda' história, sim, Ana! 🙂 Acho que o grande exemplo da Sónia é o de que o medo de não mudar e do desconforto e da infelicidade foi superior ao medo do desconhecido. E coragem é isso mesmo, agir apesar do medo! 😉 Bom 'remoanço' e pensa – o que falta mesmo para dar o salto? 😉 Boas férias, beijinhooo
Que história tão boa a da Sónia! De facto, se ela com muita luta conseguiu mudar de vida, nunca é tarde para apostar numa nova área e fazermos o que gostamos, que bom!
Olá Rita! Nunca é tarde mesmo, é mais do que normal mudarmos de ideias, deixarmos de gostar de algo, passarmos a adorar outra coisa qualquer e em qualquer momento do percurso e em qualquer idade podemos sempre mudar a rota. Mudar não é fácil, como se viu pelo exemplo da Sónia, mas impossível é que não é de certeza se nos propusermos a descobrir como o fazer! 😉 bj