
Odeio o meu trabalho! E agora? Foi isto que pensei, em pânico, quase quase logo na primeira experiência de trabalho depois de sair da faculdade, com 22 anos. Foi mesmo na primeira, mas dei o desconto do que poderia ser o choque de realidade de trabalhadora e, logo, adulta, a bater-me na cara. Na segunda experiência que não demorou muito, e logo também passado muito pouco tempo que eu sou de uma rapidez estonteante no que diz respeito a odiar coisas, o pensamento e a náusea a raiar o desespero voltou: eu odeio mesmo isto! E já não havia incertezas. Logo, todo um rol de dúvidas existenciais seguiram-se à constatação inicial – mas onde é que eu tinha a cabeça? Então andei a estudar 4 anos, ainda mudei de curso que achei que aquilo não era para mim (Jornalismo) e agora também não é isto? Mas realmente… Marketing, a sério, Anita?? Vou ter que estar sentada frente a um computador 8h por dia, ou mais, para o resto da minha vida?? Então e ainda por cima tenho que acordar cedo? TODOS OS DIAS?? E preparar marmitas? E carregar a marmita? Nos transportes? E ser chefiada por pessoas que também não percebem grande coisa disto? E queixar-me em coro com os meus colegas, nos coffee breaks, nos water breaks, na hora de almoço e no que for mais, como aquilo é horrível? E chegar à segunda-feira e ouvir logo: mas nunca mais é sexta?? E o tempo vai passar e isto vai repetir-se, em looping, todos os dias, todas as semanas, todos os anos do resto da minha existência??
Sim, eu consigo ser bem dada ao drama. E sei que algumas das minhas questões panicantes com o choque da realidade laboral foram ridículas mas foi mesmo tudo isto, e mais uns quantos cenários catastróficos, que me passaram pela cabeça, na altura, e que me deixaram completamente perdida e sem chão. Num estado total de ansiedade e, mais ainda que o normal, numa total sensação de não pertencer a lado nenhum e de não me identificar nadinha de nada com a atividade, com as poucas empresas por onde passei (ainda pensei que procurando outras opções esta sensação desapareceria, mas cedo cheguei à conclusão que o problema estava mesmo em mim) e com o próprio mundo do trabalho, no geral – a vida corporativa e laboral que a grande maioria das pessoas, de vocês, tem, simplesmente não encaixa comigo nem eu com ela e tive mesmo muita dificuldade em adaptar-me a esse mundo, até que não o fiz de todo.
Obviamente, senti-me a maior loser à face da terra, tinha como certo de que iria acabar a viver debaixo da ponte, pus em causa quem eu era e todas as minhas capacidades e achei que só podia ter graves problemas e sem solução à vista. É que, como muita gente, eu tinha um plano mais ou menos linear: ora como sou bastante aceitável nisto da escola e sempre fui boa aluna, escolho um curso em que acho que vou gostar de executar a dita da atividade e tem perspectivas de saída, que não tenho cunhas nem conhecimentos nenhuns, por isso, convém pensar na realidade da coisa; acabo o curso, arranjo trabalho e sou feliz para sempre. O fim. Poooois, lá que foi o fim, foi, mas da minha bonita ilusão, que nem era tão bonita assim – que cenário de vida deprimente eu tinha equacionado, por amor de deus?! E que falhanço total na concretização deste meu único cenário de vida!
E é nesta mesma situação que muitas das minhas clientes que querem mudar de vida me chegam – acabadinhas de chegar à conclusão de que odeiam o trabalho e não sabem o que fazer. A diferença é que eu fui muito precoce e a minha crise existencial deu-se logo aos vinte e poucos anos e nem tempo tive de me acomodar ou ambientar sequer à profissão que tinha escolhido (nem de passar da fase de estagiária) – os meus sintomas de insatisfação profunda são muito físicos e impossíveis de ignorar e, felizmente, não os sublimei nem desvalorizei – aquela tendênciazinha para o drama, estão a ver? Pode ser útil.
No geral dos casos que me chegam e que conheço, esta crise profissional costuma dar-se por volta dos 30, 40 anos, já depois da pessoa ter passado uns belos anos numa área que, acabam por reconhecer, não tem nem nunca teve nada que ver com elas! Simplesmente, com a maturidade e a maior vontade de viverem uma vida que realmente queiram e na qual se sintam felizes, satisfeitas e realizadas, percebem que não conseguem mais aceitar viver uma vida que não é a delas. E muita gente encontra-se nesta situação (se também é o vosso caso, saibam que não estão sozinhas) porque escolher o que fazer com o resto de vida aos 18 ou até mais cedo é uma lotaria e poucas estão preparadas e se conhecem bem o suficiente, nessa idade, para escolher a profissão do futuro e da vida. E até esse conceito vai estando desactualizado porque atualmente não temos que fazer o mesmo toda a vida nem temos que fazer só uma coisa – o mundo está cheio de opções e está nas nossas mãos criar a vida e o trabalho à nossa medida.
E também, muito frequentemente, há muita gente a viver vidas de outros sendo que as suas escolhas foram muito influenciadas por família ou pelo meio e outras condicionantes em que se encontravam. Há muito boa gente que ouviu pouco o seu coração e intuição na hora de escolher um curso e acabou por ceder a pressões alheias e acabar por achar que os outros sabiam melhor. Claro que a influência até tem sempre uma boa intenção vinda da preocupação mas, realmente, ninguém sabe o que é melhor para si do que a própria pessoa. E mesmo que não saiba tem que o descobrir por si também.
No meu caso, tive a sorte, reconheço, de sempre me ter habituado a tomar decisões sozinha e fazer as coisas por mim, logo, influências externas na hora de escolher o curso ou via profissional não as tive. Mas mesmo assim deu buraco, por isso, acertar à primeira e estar feliz ainda hoje com a escolha que se fez em adolescente deve ser uma raridade. Daí que chegarem à conclusão que não querem mais fazer o que fazem é perfeitamente normal e em qualquer idade. Não têm nenhum problema nem têm que se arrepender de nenhuma decisão do passado nem da vida que já viveram e experiência que já têm, mesmo que seja numa área em que já não se revêem. Tudo é útil para o que possam querer fazer daqui para a frente e a pessoa que são hoje é também devido ao que já viveram, mesmo que sintam que não foi uma boa decisão. Erros não existem, só existe feedback, logo, tudo é informação valiosa que podem aproveitar para se alanvancarem em vez de se enterrarem em sentimentos de culpa.
Chegar à conclusão de que odiava o meu trabalho e o tanto de miserável que me senti na altura foi das melhores coisas que já me aconteceram, foi simplesmente o arranque para mudar a minha vida e acabar por construir o trabalho dos meus sonhos e que me realiza plenamente (este mesmo espaço em que vocês estão a ler). Hoje, passados quase 10 anos do início da minha crise laboral e existencial, faço e já fiz coisas e tenho um projeto e uma vida que nunca imaginaria ainda naquele momento. Portanto, tudo está sempre em aberto e a um passo de mudar radicalmente.
Odeias o teu trabalho? Boa, ainda bem. Já sabes bem o que não gostas e o que não queres. E agora? Agora, é tempo de transformar esse ódio em amor e aproveitares o melhor que esta situação tem que é, justamente, pôr-te à prova e dar-te a oportunidade de te conheceres melhor e cresceres e criares o teu futuro muito mais satisfatório – há uma luz ao fundo do túnel, sem dúvida. Logo, é altura de colocar os neurónios e as mãos ao trabalho!
Olá Anita,
Estou a passar mal com o meu emprego… e quando digo mal é maaaaaal! Fisicamente! Fico literalmente doente, chego ao trabalho r sou arrebatada por uma dor de cabeça inexplicável e, se fico demasiado ansiosa e stressada, fico com sintomas de gripe.
Nada disso me acontece ao fim-de-semana ou quando estou de férias e é quando volto que a crise é pior!
Vivo sozinha e tenho contas para pagar, só me apetece ir aos RH e demitir-me mas e depois?! Não posso estar sem ordenado…
Obrigada pela ajuda!
Olá Fabi! Lamento imenso a tua situação, não há mesmo coisa pior que estar num sítio que não se gosta e não conseguir ver solução…. mas há sempre, só tens que procurar! Em vez de te focares que não podes estar sem ordenado, foca-te em encontrar formas de colmatar a necessidade que tens – um ordenado para pagar as tuas contas e sobreviver – mas num sítio ou emprego em que não tenhas esses sintomas de forma a poderes sair daí. O que podes fazer para encontrar outro trabalho? De que outras formas podes ganhar o dinheiro de que precisas para viver? Entretanto, de que forma podes levar melhor o teu atual emprego que não te afete tanto ao ponto de te fazer sentir mal – como podes encarar o teu dia-a-dia de forma mais positiva que seja melhor para ti? Como podes trazer a sensação do fim-de-semana e das férias para o trabalho?
Algumas perguntinhas para ajudar porque a ideia é mesmo questionares-te e mudares o foco do problema para a solução – quando isso acontece, sentes-te melhor e, invariavelmente, soluções aparecem! De certeza! 🙂 Espero que corra tudo bem e se precisares de mais ajuda, já sabes!
Felicidades, beijinho! Anita